O primeiro caso de Covid-19 no mundo completa um ano nesta semana. Na época foi detectado uma “pneumonia misteriosa” em Wuhan, capital da província de Hubei, na China, que mais tarde foi identificada como o vírus que atingiu todo o planeta.
Um artigo publicado na The Lancet, considerada a revista científica de maior relevância no mundo, aponta que o primeiro paciente com sintomas da Covid-19 na região teria sido identificado em 1º de dezembro de 2019.
Trinta dias depois, a OMS (Organização Mundial da Saúde) recebeu o primeiro alerta sobre a doença, que causava febre, tosse seca e graves problemas respiratórios, como a pneumonia.
O vírus se espalhou pelo globo. Até o dia 2 de dezembro deste ano, o mundo havia registrado 63,3 milhões de casos de Covid-19 e 1,4 milhão de mortes. As informações são da OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde).
A maior crise mundial dos últimos tempos foi responsável não só por milhões de casos e mortes e pelo colapso no sistema de saúde internacional, mas por uma série de problemas econômicos e de gestão em diversos países, incluindo o Brasil.
Em território nacional, foram registradas 6,4 milhões de casos e 174,5 mil mortes desde o início da pandemia. Para o próximo ano, a expectativa é de aumento nos números, caso medidas de conscientização e isolamento social não sejam adotadas.
O especialista em estatística e ciência do comportamento Breno Adaid, professor da Universidade de Brasília e do Centro Universitário Iesb, avalia que o desafio para 2021 é grande.
Como o Brasil enfrenta
Segundo o pesquisador, o Brasil deveria estar “minimamente preparado” para lidar com o isolamento social no começo da pandemia, pois o vírus começou a se manifestar primeiramente na Ásia e na Europa.
“Quando a pandemia chegou na Europa ninguém sabia o que era. A população em geral tinha medo do vírus e se isolou. Quando chegou no Brasil, todo mundo já sabia o que era e que o nível de contágio era alto”, explica.
Relaxamento da população é indicativo para aumento de casos – Foto: Arquivo/Flávio Tin/ND
Para Breno, a segunda onda da doença na Europa cresceu porque a população começou a ter um comportamento mais relaxado após a abertura do comércio. No Brasil, a situação foi diferente: o comércio começou a abrir antes mesmo do fim da 1ª onda.
“Todos os locais que tiveram uma forte restrição e depois uma abertura explodiram de casos. No Brasil, isso aconteceu no meio da primeira onda, não no fim”, explica.
Com as festas de fim de ano, férias e Carnaval, a expectativa do pesquisador é de que haja crescimento no número de casos entre dezembro e fevereiro. Para evitar o aumento do contágio em 2021, é ideal que haja uma conscientização mais intensa das autoridades e medidas restritivas moderadas, afirma o professor.
“O modelo matemático de melhor controle do contágio é o modelo moderado, onde você tem comércio aberto, quase todos os serviços habilitados, mas as pessoas se locomovem o mínimo possível. Nesse modelo, o governo tem capacidade de atender as demandas de saúde e administrar bem o contágio sem gerar impacto econômico. Até a intervenção da vacina, é preciso administrar tudo isso”, conclui.
Veja como a Covid-19 avançou em 1 ano
1º de dezembro de 2019
- O estudo Características clínicas de pacientes infectados com o novo coronavírus de 2019 em Wuhan, China, publicado em fevereiro deste ano na The Lancet, aponta que o primeiro indivíduo com sintomas da Covid-19 foi encontrado em 1º de dezembro do ano passado.
- Naquela época, o conhecimento sobre a Covid-19 era inexistente. Portanto, os médicos chineses diagnosticavam os pacientes com base em características clínicas e exames de imagem dos pulmões.
China foi o primeiro epicentro da Covid-19 – Foto: Governo da China/Fotos Públicas/Divulgação/ND
31 de dezembro de 2019
- Em 31 de dezembro de 2019, as autoridades chinesas alertaram a OMS sobre a possível epidemia. Um time de virologistas, físicos, epidemiologistas e oficiais do governo foi formado para investigar os casos.
- No dia 1º de janeiro de 2020, o mercado de frutos do mar de Huhan foi fechado, devido à suspeita de que o vírus teria surgido no local. Um dia depois, exames de 41 dos 52 pacientes com problemas respiratórios testaram positivos para a doença, chamada na época de 2019-Cov.
Janeiro
- No dia 11 de janeiro foi registrada a primeira morte pelo vírus: um homem de 61 anos faleceu em Wuhan. O número de casos começou a crescer rapidamente: no dia 27 de janeiro, 81 mortos e 2.744 casos já estavam confirmados no país.
- Nessa data, alguns casos isolados também haviam sido confirmados na Austrália, na França, na Coreia do Sul, no Japão, no Canadá e nos Estados Unidos.
Fevereiro e março
- Um mês após a primeira morte, a OMS nomeou a doença de Covid-19. Fevereiro foi um mês crítico de disseminação do coronavírus pelo mundo: na Europa, os números cresceram e a Itália se tornou o país mais afetado. Em março, a OMS decretou pandemia e os italianos passaram a viver no epicentro da doença: até o fim do mês, mais de 10 mil mortes tinham sido confirmadas.
- Em fevereiro o Brasil confirmou o primeiro caso de Covid-19 em um homem que havia viajado para a Itália. Centenas de casos suspeitos começaram a ser investigados no país e, no fim de março, mais de 4 mil casos e centenas de óbitos haviam sido registradas no país.
- Os países passaram a adotar medidas mais rígidas de isolamento social, como quarentena, cancelamento de voos e fechamento de fronteiras.
Abril e maio
- Na Europa, a pandemia começava a desacelerar. Já no Brasil, com o fechamento do comércio, cancelamento de eventos e aumento nos números de casos e óbitos, a economia começou a declinar. Segundo o Ministério da Economia, o país fechou 1,1 milhão de vagas de emprego entre março e abril. Em 7 de abril, o governo federal lançou o site e o aplicativo para pedido do auxílio emergencial de R$ 600.
- Também em abril o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou a exoneração do então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, após discordâncias sobre medidas de contenção do coronavírus. No lugar, foi nomeado Nelson Teich, que também foi exonerado, um mês depois.
- No fim de maio, o Brasil registrou mais de 330 mil casos de Covid-19, se tornando o segundo país com maior incidência de doentes. Além disso, foram registrados cerca de 21 mil óbitos até o fim de maio.
Junho a setembro
- Entre junho e setembro, os casos no Brasil continuaram aumentando. No mês de agosto, o país chegou a 100 mil mortos. Em setembro, o general do Exército Eduardo Pazuello, que comandava o Ministério da Saúde interinamente, assumiu a pasta de forma oficial.
- Além disso, entre junho e setembro, o mundo viu os testes com vacinas contra a Covid-19 avançarem: o primeiro exame com o imunizante da AstraZeneca teve resultados promissores no mês de julho. Outras vacinas, como Coronavac, Johnson & Johnsons’s e Sputnik V ganharam destaque.
- Em setembro, Brasil chegou aos 143 mil mortos e 4,8 milhões de casos de Covid-19. Com o verão no hemisfério norte, os casos voltam a crescer e país europeus registram segunda onda da doença.
Outubro a dezembro
- Em outubro, o número de casos de Covid-19 no Brasil teve queda, mas voltou a subir no fim de novembro e início de dezembro, após meses de afrouxamento nas medidas de isolamento social. Até 2 de dezembro, o país havia registrado 6,4 milhões de casos e 174,5 mil mortes.
- A disputa política em torno da vacina contra a doença é cada vez maior. O país finaliza o ano com plano de vacinação que prevê quatro etapas e produção de imunizantes em território nacional. Além disso, motivados pelo aumento de casos, os estados voltam a traçar estratégias de isolamento social, ainda de forma tímida.
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